quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Reforma Protestante Parte I: Uma visão histórica


Até o século XVI a Igreja Católica era a única igreja que existia, o que é explicado pelo fato de ter sido a única criada por Deus. “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Mt 16,18
Em 1514, o Papa Leão X começou a conceder indulgência a qualquer cristão que recebesse os sacramentos e desse esmola, ou seja, que participasse e recebesse os sacramentos e desse esmola para a igreja,alguém ou alguma instituição, como forma de caridade. Não houve um comércio em si, mas apenas uma condição, como ainda há hoje, para se receber as indulgências, sejam elas plenárias ou parciais. “Nunca se pôde "comprar" indulgências. O escândalo financeiro ao redor dessas, o escândalo que deu a Martinho Lutero uma desculpa para sua heterodoxia, tinha a ver com indulgências nas quais a doação de dinheiro para algum fundo de caridade ou alguma fundação era usada como ocasião para conceder a indulgência. Não houve estritamente venda de indulgências... É conveniente observar que nestes propósitos não havia nada essencialmente mal. Dar dinheiro a Deus ou aos pobres é um ato de caridade, quando se faz pelos motivos corretos, certamente não restará sem recompensa". [1] Contudo, como sempre e em todo lugar, existem pessoas que se aproveitam da situação para benefício próprio,  foi aí que surgiram algumas pessoas que, de fato, “vendiam” a ideia da indulgência e ludibriavam os fiéis. João Tetzel foi um exemplo desses, ele dizia: “Para adquirir a indulgência para a alma dos defuntos, bastava a esmola sem o estado de graça do doador”.  Ao tomar ciência desses casos, a Igreja Católica, em 1567, cancelou todas as concessões de indulgencias que tiveram a ver com pagamentos ou transações financeiras.
“(...) a Igreja nunca vendeu o perdão dos pecados, nem vendeu indulgências. O perdão dos pecados sempre foi pré – requisito para as indulgências. Quando a Igreja indulgenciava a prática de esmolas, não tencionava dizer que o dinheiro produz efeitos magníficos, mas, queria apenas estimular a caridade ou as disposições íntimas do cristão para que conseguisse libertar-se das escórias remanescentes do pecado. Não há duvida, porém, de que pregadores populares e muitos fiéis cristãos dos séculos XV e XVI usaram de linguagem inadequada ou errônea ao falar de indulgências. Foi o que deu ocasião aos protestos de Lutero e dos reformadores” D. Estêvão Bettencourt, OSB.
 Revoltado com essa venda de indulgências, Lutero, monge alemão da ordem dos agostinianos, decidiu dar inicio a uma reforma. Com isso ele pregou, em 1517, na porta da igreja de Wittenberg, um manuscrito contendo 95 teses,que ele escrevera,que divergiam da doutrina católica. Entre elas destacam-se as cinco solas (sola fide(só a fé), sola scriptura (só a escritura) ,solus Christus( só Cristo), sola gratia ( só a graça)  e soli Deo gloria ( glória somente a Deus)). Essas suas teses defendiam que :somente a fé, sem caridade, já bastava para a salvação; que a única fonte de conhecimento era a sagrada escritura (desprezando a tradição oral e o conhecimento passado), entre outras coisas mais, que claro, vão contra a Igreja Católica, portanto negam a divindade e santidade desta, e consequentemente negam a Deus e seus ensinamentos.
Em 1520, o Papa Leão X, através de uma bula, deu 60 dias a Lutero para que ele se retratasse sobre suas ideias sob pena de excomunhão.  Lutero, porém, a queimou em praça pública. Sendo assim, o monarca germânico, Carlos V, com medo dessa revolta que estava por eclodir, intimou Lutero a comparecer à Dieta de Worms, que foi uma reunião convocada entre a cúpula politica e religiosa, para debater com Lutero as suas teses. Ele recusou o pedido de retratação e insistiu naquilo que acreditava, por isso, a Igreja o excomungou e Carlos V o tornou fugitivo da lei. Com isso Lutero refugiou-se no castelo de seu amigo, Frederico III, da Saxônia.
As 95 teses foram rapidamente copiadas e disseminadas pela Europa. Com isso o protestantismo se tornou uma realidade europeia. “Tal movimento expandiu-se pela Europa. Na Suécia e Dinamarca o protestantismo tornou-se religião oficial. Na Suécia, sua implantação foi política, pois o rei Gustavo Wasa, desejando anular a autoridade dos bispos, recuperou os domínios que haviam sido legados à Igreja Católica, fazendo profissão de fé luterana e procurando-a introduzir em todo o reino. Na Dinamarca, Frederido I declarou-se abertamente protestante e, mais tarde, seu filho Cristiano III aboliu a hierarquia católica e confiscou-lhe os bens. Na Suíça a reforma foi introduzida por Ulrich Zwinglio que, persuasivo, atraiu tão grande número de adeptos a ponto de, em 1529, provocar uma guerra civil-religiosa, na qual morreu. Enquanto a Suíça se debatia entre os dois grandes partidos políticos, chega a Genebra João Calvino, que sofrera profunda influência dos discípulos de Lutero. Definiu elementos básicos de sua teologia em sua Instituições da Religião Cristã. Alastrou-se o calvinismo pela Holanda e França, tendo também se infiltrado nos reformistas da Inglaterra (puritanos) e da Irlanda (presbiterianos).”[2]
A principal ideia de João Calvino era a predestinação celestial. Ou seja, a pessoa já nascia predestinada ao céu, porém não eram todos que tinham essa “sorte”.
A Igreja Católica reagiu a essa reforma com a contra reforma. Essa contra reforma foi orientada por nada menos do que seis grandes Papas: Paulo III, Júlio III, Paulo IV, Pio V, Gregório XIII e Sisto V.
“Antes mesmo do movimento reformista, já havia conhecido a Igreja um movimento de revivescência religiosa, iniciado pelo Cardeal Ximenes, na Espanha, onde se fundaram escolas, coibiram-se os abusos nos mosteiros e foram os padres obrigados a aceitar sua responsabilidade de dirigentes espirituais. Na Itália, já um grupo de padres fervorosos vinha trabalhando por uma recuperação do antigo espírito cristão, através de obras de caridade e serviço social. Destacaram-se os teatinos, com votos de pobreza, castidade e obediência, e os capuchinhos, que pretendiam seguir a mesma trilha de são Francisco. Além disso, comunidades religiosas organizaram-se, novas ordens foram fundadas, dentre as quais a Companhia de Jesus, ou Ordem dos Jesuítas, que é a que melhor caracteriza o espírito de reação católica. Seu fundador foi Santo Inácio de Loyola”.
Atualmente Existem mais de 1000 seitas protestantes diferentes, sendo os EUA um dos países mais protestantes do mundo. No Brasil hoje destacam-se a  Igreja Universal do Reino de Deus, a Assembleia de Deus, Renascer, os Mórmons, Testemunhas de Jeová, Igreja Adventista do Sétimo Dia e Pentecostal do Reino de Deus, entre outras.
Lutero e Calvino são considerados os pais do protestantismo. A ideia protestante que eles tinham quando propuseram a reforma são muito diferentes das que temos hoje, como por exemplo, o papel de Maria. Lutero era um profundo admirador e venerador de Nossa Senhora, sendo de sua autoria os mais bonitos textos e poemas sobre a devoção à Virgem. Percebe-se então que a reforma acontece até hoje, tornando-se assim, um ciclo vicioso. A Igreja Católica, depois de mais de dois mil anos, continua sendo Uma. A protestante já tem mais de mil vertentes. Qual é então, a verdadeira religião?

Em breve a parte II: Uma breve visão teológica




[1] http://www.veritatis.com.br/apologetica/graca-justificacao-pecado/785-mitos-acerca-das-indulgencias
[2] http://www.veritatis.com.br/apologetica/protestantismo/866-breve-historia-do-protestantismo

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